Filmes celebram centenário da escritora Carolina Maria de Jesus

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Carolina Maria de Jesus, negra, moradora de uma favela no Canindé, zona norte de São Paulo, foi uma mulher de personalidade e narrativa fortes. Apesar de ter estudado apenas até o segundo ano do primário, escrevia de forma arrebatadora e cortante, nos cadernos que encontrava no lixo, sobre seu dia a dia em uma comunidade pobre na capital paulista.

A autora descoberta pelo jornalista Audálio Dantas lançou, no início década de 1960, o livro Quarto de Despejo - Diário de Uma Favelada, que vendeu mais de 80 mil exemplares no Brasil e foi traduzido para 15 idiomas. Os outros livros, Pedaços de Fome (1963),Provérbios (1963) e o póstumo Diário de Bitita (1982), não chegaram a fazer tanto sucesso.

Não se sabe ao certo a data de nascimento de Carolina Maria, apenas que foi registrada em 14 de março de 1914. Como parte da celebração do ano de seu centenário, em São Paulo, no mês de julho deste ano, foi exibido três filmes sobre a vida da escritora no Espaço Itaú de Cinema.
Um dos filmes que foi o documentário Favela: A Vida na Pobreza, da alemã Christa Gottmann. A película foi localizada por pesquisadores do Instituto Moreira Salles em uma cinemateca no interior da Alemanha e passou por restauração e legendagem. A obra de 1971 chegou há pouco tempo no Brasil e especula-se que tenha havido uma articulação diplomática na década de 1970 para que fosse esquecido, já que o governo militar brasileiro não apreciava produções que abordavam problemas sociais do país.

O filme, nunca exibido em São Paulo, mostra Carolina catando papel e, além de relatar seu hábito de inspecionar qualquer lata de lixo, ela fala sobre a dificuldade que tinha para alimentar os filhos e sobre a inveja que sentia ao ver uma vizinha catando feijão.
No mesmo dia, também foram exibidos dois curtas-metragens sobre esta que foi uma das primeiras autoras negras do Brasil. Vidas de Carolina, de Jéssica Queiroz, é um documentário inspirado na vida da escritora e catadora de lixo. Ele trata sobre as escolhas (e a falta delas) de duas mulheres que sobrevivem da coleta de resíduos sólidos.

No outro curta, Carolina, o cineasta Jeferson De (Brother) roteirizou algumas passagens do mais famoso livro da escritora mineira. O filme se passa em um quarto onde Carolina (Zezé Motta) vive com a filha Vera Eunice, de onde relata sua realidade miserável, cercada de desespero e preconceito.
Após as exibições, houve um debate com a participação da diretora Jéssica Queiroz e de Débora Garcia, do filme Vidas de Carolina, e da filha da escritora, Vera Eunice de Jesus.

O evento faz parte do programa AfroeducAção no Cinema, que promove bimestralmente desde 2011 sessões que têm a negritude como tema-chave. O objetivo do projeto é incentivar o uso de produções audiovisuais como recurso pedagógico. Já foram exibidos Bróder, de Jeferson De, Raça e Filhas do Vento, de Joelzito Araújo, Tão Longe É Aqui, de Eliza Capai, entre outros filmes.


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